21.4.09

Epitáfio²

"Quid autem est amare, nisi velle
bonis aliquem affici quam maximis
etiamsi ad se ex iis nihil redeat?"

























Há dias que nascem ao contrário
Como se morressem nos primeiros raios de sol
Há dias que sangram em vez de amanhecer
dias que relutam em despir o luto da madrugada



Pra se vestir de ocre e laranja
dias que desabrocham em quietude e solidão
No desaprender de esperar
Desas sosseguei mil manhãs nascidas














[EU] acordei com o gosto do nada
Enxergando a minha vida em 8mm

(preto/branco)


Tomo café e percebo que tudo ali
tem gosto de sobra de vencida de velho
Vejo que o papel de parede decorado
é mofo que as portas estão carcomidas
de paredes manchadas pela umidade
de camas geladas que parecem molhadas
e ouve as baratas dentro das gavetas













[EU] sei que amanhã pode ser tarde

[EU]


(sai pela porta e deixei a c.o.v.a.r.d.i.a
presa no banheiro junto com meus anti-depressivos)













[EU] voltei pra casa pela milésima
septuagésima terceira vez e carregava
os olhos repletos de des expectativas
inundados da ausência dos espectros
que aprendeu a desesperar caminho
lenta pelas mesmas ruas encharcadas
de impossibilidades reflete-se nas
vitrines que lhe vêem passar só e busca
nos bolsos o calor das mãos tão distantes















[EU] ando como se soubesse do rumo
que há tanto deveria ter tomado como
se a estrada que me levaria lá sempre
tivesse estado estendida na porta da
sua casa e meus passos são leves e
rápidos mais rápido e não tão leve
um coração descompassado
Há medo e angústia sensação de
nadar a favor e em favor de si






[EU] dobrei a esquina como sempre
e todo dia olho para o chão ocupada
com o piso irregular e mais uma vez
no fundo nego a esperança torta do
que poderia ser desacreditando
do que será por ser demais

[EU] caminho alheia a tudo de si
Esquecida do que é..














[EU] sorrio tendo vontade de chorar
Fica pra depois dividir o sorriso
Assim inauguro-(se) só mais um dia...

Re.nascendo à cada manhã
Num espaço desigual
(O casulo em construção)









Então


Respiro


Resguardo..



P.a.r.o





















Re-paro (E) vejo


Sinto Penso em voar
Mas antes de voar











































Sinto a (Dor) do crescer das a.s.a.s
Depois da d.o.r (o)Esquecer-se como é andar
Não quero (mais)renascer a cada manhã ! ]



Um comentário:

A.S. disse...

A madrugada é um relógio parado
Minha mente girando e eu mudo
O voo nasce no escuro
Infinito horizonte do meu quarto

Copos esperando
A dor do amor
No silêncio macio
Expande-se o cio
No negro da noite

A bomba atômica do prazer explode
Em partículas de nada
A droga do desejo não acalma
Cápsulas anti-tédio não dissolvem
O mar turbulento
Sob as negras asas...

O cio e o tiro
Dois lados do mesmo rio
Com o grito amordaçado eu me atiro
A Hiroshima é aqui
Uma Hiroshima dentro de mim.