
Entre os restos que habitam a casa
a manhã abortada, coberta de sangue a quem foi negado nascer entre os teus braços
Flores secas e despedaçadas a dente deitadas aos pés do teu retrato e um beijo frio que morreu de fome atrás da porta que não se abriu.
Entre os restos que habitam a casa, o espectro dos teus olhos no espelho do quarto plenos das certezas que não me deste, as frases de um amor insano agarradas aos lençóis, uma restos de cinzas pousadas nua no cinzeiro esquecido..
E uma paixão partida escondida em cada tragada..

Entre os restos que habitam a casa, um sonho que virou brisa impregnado nas cortinas com o teu cheiro, o gozo mais fundo dentro de uma gaveta, soluços galopando lírios nos vasos e o {amor absoluto}.
Entre os restos que habitam a casa,
o pouco que sobrou de mim.

Preciso me manter longe de mim mesma, antes que eu acabe me machucando.
Todos sabem que crianças não devem brincar com fogo.
Preciso me levar para passear e ver se me distraio e traio o que venho sentindo
se esqueço do que me preenche e consigo fazer de conta que isso tudo aqui não é comigo e que, apesar das evidências empíricas em contrário, não vai durar para sempre.
(Preciso urgente de uma viagem para longe da minha vida)
Me levar a lugares desconhecidos, desses onde eu não queria esta.
Para ver se encontro lá um outro eu e re-encarno viva para parar
de matar meu futuro a ferro, fios e cortes.
Preciso tomar um porre de algo forte que me faça perder o norte, essa única direção conhecida, e ver se cambaleando a esmo entre vazios encontro o rumo de mim mesma.

Pra ti, sempre um ramo de flores sobre o criado mudo
milhares de vezes vivas, pétalas frescas e chovidas
sobre a capa do livro que em vez de ti, me fez companhia.

Pra ti, um sorriso guardado entre o descrente e incontido, entre a realidade e o sonho como um marcador de páginas e ânimos, vida que se refaz viva-morta-viva e um dia cansa. Porque teu amor me chegará tarde, quando de mim já tiverem partido as esperanças em forma de velas prenhas, vazias de tudo que não era vento, quando as linhas estiverem deslidas, os versos rimados do avesso. Teu amor me chegará tarde, quando não mais se possam ressuscitar sonhos e canteiros,
Quando em mim já não mais viver o que por
tanto tempo fez saber-me existente.

Teu amor chegará e só encontrará flores murchas
chovidas sobre o livro em branco no criado morto.
Amanhã pode ser tarde.
4 comentários:
Pude sentir...
Uma linda tragedia....
eh vc (realmente) entendeu!
mas não parecem
palavras
de alguém q nunca amou
Muito denso...
O que eu achei mais interessante foi a razão dizendo para o coração que tudo é efêmero, mesmo essa dor. "apesar das evidências empíricas em contrário, não vai durar para sempre".
E fiquei pensando se a cada tragada, não se acende um fogo e se leva algo com a fumaça.
abraços
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