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Não servirão as preces que aprendemos na infância
ou essas que às vezes murmuramos.
Que um homem tenha morrido, não nos serve, seu sofrimento ou o de outro – importa pouco: (somos iguais em dor).
Estes desenhos que você faz ainda, aqueles que eu mesmo costumava fazer.
A memória, essa voz, essas imagens que nos assombram sem cessar.
O esquecimento que às vezes desejo, que às vezes detesto.
O filme e a música que outro dia nos fez chorar.
O instrumento que eu quis tanto aprender – que nao é mais que madeira e aço.
As pessoas por quem nos perdemos em paixão e a própria paixão que é a mesma, sempre.
As três palavras dos que amam (as mesmas, sempre), que prometemos não esquecer - não lembramos então que prometer é desnecessário.
O filho que eu temo mas terei, e o teu que não vou conhecer.
A história que poderia ter sido nossa, a outra vida que sigo imaginando.
O trabalho, a persistência, a resignação, o pão, a amizade e todas as coisas pelas quais nao me interessei.
A soberba. O desamor.
A morte. O meu medo, o meu medo sem fim.
Coisa alguma nos salva.
E ademais estamos sós.
Eu te falo e te ouço, tocamos as mãos e nos olhamos
às vezes, com uma pequena alegria ou um secreto desengano
e ainda assim, ainda assim não nos encontramos.
Do início a um fim que entrevemos com pavor disfarçado,
lado a lado, atravessamos (sós).

By/Fábio Rodrigues
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