Cor : (descendente de orientais)
Meio : pulsos cortados
Forma de mensagem : carta manuscrita a tinta azul

"A quem possa interessar:
Grande parte do que possuía foi vendida ou doada.
O que resta, é minha vontade que seja entregue ao meu amigo João;
o qual poderá dar a meus pertences o destino que lhe aprouver.
((Nada deverá ser entregue a qualquer parente meu))
Quanto aos meus restos mortais, suplico encarecidamente; não o torturem com choros, rezas ou velas. É apenas a minha matéria e imploro que a deixem degradando-se em paz. A putrefação não é degradante. Se a humanidade permitisse que a natureza tomasse o seu curso, seria o renascimento da matéria.

Eu renasceria no vento que passa a murmurar, nas folhas
que farfalham, no solo que abriga e alimenta milhares de seres vivos,
na água que corre para o mar nas chuvas que regam os campos, no orvalho
que cintila ao luar, nas grandes árvores que abrigam ninhos de passarinhos
e que vergam a passagem dos ventos fortes, nos pequenos arbustos
que escondem a caça do caçador...
Céus! Eu me vingaria se apenas uma de minhas partículas
participasse do desabrochar de uma flor ou do canto de um pássaro.
Romântico? Não!

Foi o mundo, minha família, meu educador mas principalmente...
foi o seio que aconchegou a criança que vinha lhe contar as
suas tristezas, máguas, alegrias, pensamentos, e seus desejos íntimos...
suas esperanças. A criança crescida quer voltar para lhe contar
seus sofrimentos, desilusões, a morte de suas esperanças...
para encontrar novamente o aconchego onde poderá descansar sua
cabeça cansada e abatida e onde poderá, enfim, chorar as suas
lágrimas que não encontram onde chorar.
Volto derrotada porque não fui capaz de viver,
trabalhar e estudar não foram suficientes para mim.
E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver
com a morte dentro de mim.
Perdoem-me ..., ..., ..., "
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