27.4.09

Não entendo






Não entendo
Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender





Entender é sempre limitado
Mas não entender pode não ter fronteiras
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo



Não entender do modo como falo é um dom
Não entender mas não como um simples de espírito





O bom é ser inteligente e não entender
É uma benção estranha como ter loucura sem ser doida
É um desinteresse manso é uma doçura de burrice
Só que de vez em quando vem a inquietação







Queria entender um pouco
Não demais












Mas pelo menos entender que não entendo
Não entendo







Isso é tão vasto que ultrapassa
qualquer entender entender é sempre limitado

Mas não entender pode não ter fronteiras
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo

Não entender do modo como falo é um dom
Não entender mas não como um simples de espírito

É uma benção estranha como ter loucura sem ser doida
É um desinteresse manso é uma doçura de burrice
Só que de vez em quando vem a inquietação









Quero entender um pouco





Não demais
Mas pelo menos entender que não entendo



__________________Clarice Lispector
































































































Vivia com a convicção de que me tinha tornado inacessível como se todos os caminhos estivessem à minha margem Como se eu me furtasse a todos os encontros mesmo aqueles que não chegaram a ter lugar pensava que me tinha tornado inexpugnável como se todas as defesas que se edificaram em mim estivessem revestidas de suficiências de vidro

Este era o mundo em convicções erigido no qual me tranquei por dentro e fiz questão de me esquecer de todas as chaves este era o mundo que comungava das minhas certezas tão frágeis e que se protegia em muralhas de lugares perdidos e mãos vazias

Foi então que surgiste estilhaçaste as minhas paredes de vidro e caminhaste sobre estes resquícios meus serenamente enquanto o vidro te rasgava a pele seguiste impune à dor e era a mim que me doía inundaste as minhas fragilidades com a tua presença e deixaste arder as minhas fronteiras de imperfeições e com a inocência de uma criança caminhaste sobre as minhas defesas como quem destrói castelos de areia.





















Talvez se eu dormisse mais
fumaria menos

Clarice lispector


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