5.11.08

Abra a caixinha (!)





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Dentro dela
todo meu amor por (vc..)


















Sob o signo do efêmero


















Aprendi a amar sob o signo do efêmero, avisada de que a qualquer momento podia me flagar vivendo de mentira ou despencando de uma torre muito alta que a mim não pertencia. Alfabetizei o peito e os olhos para acolher o adeus a qualquer momento e por qualquer motivo, em muitas línguas, de muitas formas, mesmo sussurrado em ausência e silêncio.

Eduquei os braços para o regresso do vazio e os pés para dar meia volta e seguir noutra direção, como se o amor fosse frágil, perecível, volátil, fugidio, como se eu nunca fosse capaz de fazê-lo vingar, ou não merecesse permanência, nunca mais do que uma miragem, um presságio, um trailer, uma promessa na qual não se pode confiar.

Aprendi que o amor é uma quase falta, é inapreensível, e que, ao menor vacilo, se estilhaça, se transforma e fenece com velocidade insuspeita. Aprendi a suspeitar ante o menor sinal e ante sinal algum, a ser uma sentinela insone e atenta na tentativa de acolchoar a provável queda.

Talvez por isso não queira dar nome ao que sinto, talvez por isso faça deste contentamento uma felicidade clandestina, adiando o momento de reconhecê-lo para não colocá-lo em perigo, tentando burlar a sorte como se ao não me dar por encantada, não estivesse eu ao sabor do confisco.

Então disfarço. Dou nomes outros: alegria, paz, contentamento, tempo bom, tento enganar o destino, a vida, o insondável. Brinco de não ter essa imensidão se instalando em mim, faço de conta que não sei da deliqüescência, do tilintar, do rumoroso mundo que chega devagar e sabe de mim como eu mesma desconhecia.


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